domingo, 22 de abril de 2012

Wikileaks revela “The Global Intelligence Files”

Segunda-feira 27 de Fevereiro, o WikiLeaks
começou a publicar os Arquivos de
Inteligência Global – mais de cinco milhões
de emails da empresa de “inteligência
global” Stratfor, sediada no Texas, Estados
Unidos. Os emails vão de julho de 2004 até
o final de dezembro de 2011. Eles revelam
como funciona por dentro uma empresa
que se identifica como uma editora de
análise de inteligência, mas que fornece
serviços de inteligência privada para
grandes corporações como a Dow
Chemical Co, acusada de um desastre
ambiental em Bhopal, Índia, e as empresas
de armamentos Lockheed Martin, o
Northrop Grumman, Raytheon,  e a
agências governamentais incluindo o
Departamento de Segurança Nacional dos
EUA, a Marinha americana e a Agência de
Inteligência da Defesa dos EUA. Os emails
revelam a rede de informantes da Stratfor,
sua estrutura de financiamento, técnicas de
“lavagem” de dinheiro e métodos
psicológicos usados, como por exemplo:
“Você tem que conseguir controla-lo. Isso
significa controle financeiro, sexual ou
psicológico… Este é o começo da nossa
conversa para a próxima fase” – CEO George
Friedman para a analista da Stratfor, Reva
Bhalla, a 6 de dezembro de 2011,
ensinando-a como explorar um
informante israelita para obter
informações sobre as condições de saúde
do presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
O vazamento contém informação
privilegiada sobre os ataques do governo
dos EUA contra Julian Assange e o
WikiLeaks, assim como as próprias
tentativas da Stratfor de abater o
WikiLeaks. Há mais de 4.000 emails que
mencionam o WikiLeaks ou Julian Assange.
Os emails também expõem a
promiscuidade entre as empresas de
inteligência privada nos Estados Unidos.
Fontes governamentais e diplomáticas de
todo o mundo fornecem à Stratfor
informação sobre o que vai acontecer na
política e eventos mundiais a troco de
dinheiro. Os Arquivos de Inteligência
Global revelam como a Stratfor recrutou
uma rede mundial de informantes que são
pagos via contas na Suiça e cartões de
crédito pré-pagos. A Stratfor tem
informantes secretos e abertos entre
funcionários do governo, pessoal de
embaixada e jornalistas de todo o mundo.
Este material mostra como uma empresa
de inteligência privada funciona e como
alveja indivíduos para seus clientes
corporativos ou governamentais. Por
exemplo, a Stratfor monitora e analisa as
informações online de ativistas contra a
Bhopal, incluindo o grupo “Yes Men”, para
a gigante Dow Chemical. Os ativistas
querem compensações para o desastre de
vazamento de gás da empresa Dow
Chemical/Union Carbide ocorrido em 1984
em Bhopal, na India. O desastre levou a
milhares de mortes, mais de meio milhão
de feridos e prejuízos ambientais
duradouros.
A Stratfor percebe que o uso rotineiro de
recompensas financeiras secretas para
obter informações de fontes internas é
arriscado. Em agosto de 2011, o CEO da
Stratfor George Friedman disse
confidencialmente aos seus funcionários:
“Vamos contratar uma empresa de advocacia
para criar uma política para a Stratfor a
respeito do Foreign Corrupt Practices Act (lei
que proíbe a corrupção no exterior). Não
pretendo ser exposto à acusação pública, e
não quero que ninguém aqui o seja”.
O uso de fontes internas da Stratfor para
fins de inteligência se tornou uma máquina
de fazer dinheiro de legalidade
questionável. Os emails mostram que em
2009 o diretor do banco de investimento
Goldman Sachs, Shea Morenz, e o CEO da
Stratfor, George Friedman, vislumbraram
uma maneira de “usar a inteligência” que
estavam obtendo da sua rede de
informantes para começar um fundo de
estratégico de captação de investimentos.
Num documento confidencial de agosto de
2011, marcado como “NÃO COMPARTILHE
OU DISCUTA”, George Friedman explicou:
“ O que o StratCap irá fazer é usar a
inteligência e a análise da Stratfor para
negociar uma série de instrumentos
geopolíticos, incluindo obrigações
governamentais, moedas nacionais, etc… “.
Os emails mostram que em 2011 o ex-
funcionário da Goldman Sach, Morenz,
investiu “substancialmente” mais de US$4
milhões e entrou para o conselho diretivo
da Stratfor. Ao longo de 2011, uma
complexa estrutura offshore chegando até
a África do Sul foi elaborada, destinada a
dar aparência de que o StratCap seria
legalmente independente. Porém, de
maneira confidencial, Friedman explicou
aos funcionários da Stratfor:
“ Não pense na StratCap como uma outra
organização. Será integral… Será útil pensar
nela como outra face da Stratfor, e o Shea
como outro director da Stratfor… já estamos
estudando possíveis portfólios e trocas
fictícias”.
StratCap deverá ser lançada em 2012.
Os emails da Stratfor revelam uma
empresa que cultiva laços próximos com o
governo dos EUA e contrata seus ex-
funcionários. A empresa está preparando
uma previsão de 3 anos para o Comando da
Marinha, e está treinando seus integrantes
e os de “outras agências governamentais” a
“se tornar agentes da Stratfors”. O vice-
presidente da Stratfor para inteligência,
Fred Burton, era um agente especial do
Serviço de Segurança Diplomática do
Departamento de Estado americano, tendo
dirigido a divisão de contra-terrorismo.
Apesar dos laços com o governo, a Stratfor
e outras empresas similares operam em
completo segredo, sem qualquer
transparência e sem prestar contas a
ninguém. A Stratfor afirma que opera “sem
ideologia, agenda ou inclinação política”,
mas estes emails revelam integrantes da
rede de inteligência privada que se alinham
proximamente com as políticas do governo
dos EUA e enviam “dicas” para o serviço
secreto israelense, o Mossad – através,
inclusive, de um intermediário do jornal
Haaretz, Yossi Melman, que conspirou com
o jornalista do “Guardian”, David Leigh,
para enviar os documentos do Cablegate
para Israel de maneira secreta e em
violação do contrato entre o WikiLeaks e o
“Guardian”.
Ironicamente, considerando as
circunstâncias atuais, a Stratfor estava
tentando lucrar com o que chamou de
“trilha aberta” pelo vazamento dos
documentos do Afeganistão, pelo o
Wikileaks, em setembro de 2010:
“É possível para nós conseguir alga nesta
trilha que foi aberta pelos vazamentos? É
aparentemente uma feira de medo, e isso é
bom. E temos algo a oferecer que as empresas
de segurança informática não oferecem, que
Fred e Stick sabem, mais do que qualquer um
neste planeta… Podemos desenvolver algumas
ideias e procedimentos para evitar que os
funcionários de uma empresa vazem
informações sensíveis… Na verdade, não
tenho certeza de que este é um problema
informático que requer uma solução
informática”.
Assim como os documentos diplomáticos
do WikiLeaks, a grande importância destes
emails será revelada nas próximas
semanas, quando o grupo de jornais e o
público pesquisá-los e descobrir conexões.
Os leitores vão saber que, enquanto
grandes números de assinantes e clientes
da Stratfor trabalham com as agências
militares e de inteligência dos EUA, a
Stratfor acordou uma adesão gratuita ao
controverso general paquistanês Hamid
Gul, ex-chefe do serviço secreto do
Paquistão ISI que, de acordo com
documentos do Cablegate, planejou um
ataque com explosivos contra forças
internacionais no Afeganistão em 2006. Os
leitores irão descobrir as classificações
internas dos emails da Stratfor, que
repartia categorias como ’alpha’, ’tactical’ e
’secure’. A correspondência também
contém nomes codificados para pessoas de
interesse particular como
’Izzies’ (membros do Hezbollah) ou
’Adogg’ (Mahmoud Ahmedinejad,
presidente do Irão).
A Stratfor fez acordos secretos com
dezenas de organizações de mídia e
jornalistas – da Reuters ao “Kiev Post”. A
lista dos “Parceiros Confederados” da
Stratfor, aos quais os emails se referem
como “Confed Fuck House” está incluída no
vazamento. Enquanto que é aceitável que
jornalistas troquem informações ou sejam
pagos por outras organizações de
mídia, estas relações são corruptas pois a
Stratfor é uma organização de inteligência
privada que trabalha para governos e
clientes privados.
O WikiLeaks também obteve a lista de
informantes da Stratfor e, em muitos casos,
registros de recompensas, como o
pagamento de US$1.200 por mês para o
informante “Geronimo”, fonte do ex-
agente do departamento de Estado dos
EUA. O WikiLeaks construiu uma parceria
investigativa com mais de 25 organizações
de mídia e ativistas para informar o
público sobre este grande conjunto de
documentos. As organizações tiveram
acesso a um sofisticado banco de dados
desenvolvido pelo WikiLeaks e junto com o
WikiLeaks estão conduzindo avaliações
jornalísticas destes emails. Revelações
importantes usando este sistema
aparecerão na mídia nas próximas
semanas, junto com a publicação gradual
dos documentos originais.
Fonte: Wikileaks


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